Meio Limão

UM LIMÃO MEIO LIMÃO, O MEU É MEIO

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Consulta em Santa Maria



Para mal dos meus pecados hoje tive de ir a uma consulta no Hospital de Santa Maria.
Mal se chega temos logo a imagem real do nosso País...que, diga-se de passagem, não fica muito bem representado..
Mas podemos analisar quase todos os problemas do País observando uma simples sala de espera do Hospital.
Há desde logo pessoas que esperam pelas escadas do hospital, ou seja, nem sequer ouvem a auxiliar que chama pelas pessoas para a consulta. Auxiliar esta que, sabendo perfeitamente que há pessoas que não a ouvem, é incapaz de ir lá fora chamar, e continua com o mesmo tom de voz como se estivessem apenas 5 pessoas à sua frente.
Depois há a fila. A fila para o guichet. No guichet estão duas pessoas a atendar e mais três pessoas atrás que mexem insistentemente em ficheiros e arquivos, abrem e fecham gavetas, até parece que estão a trabalhar.
A fila serve para tudo, para pôr o bendito carimbo nas receitas, para confirmar a presença para a consulta, para marcar nova consulta e para toda uma parafernália de opções.
Depois há quem esteja na fila, como eu, para tentar confirmar a minha presença (sem saber ao certo se preciso mesmo fazê-lo) e que, quando chego lá, ai mas a sua consulta não está marcada. E eu, pois, mas ficou marcada na agenda da médica, "ah! então isso é especial, entre ali e veja se a doutora está", percebi logo que a minha médica tinha furado o esquema comigo, mas não me tinha avisado.
Estava eu na fila e ouvi as coisas mais inacreditáveis e várias desculpas para passar à frente.
"Olhe desculpe, mas a fila é ali atrás" - é o que mais se ouve.
Desta vez as respostas foram "ah!, mas é que eu tenho um papel dos bombeiros, e o sr. dr. lá dentro disse para eu vir logo porque era prioritário, é que sabe....nós ainda vamos para muito longe!" (e de vez em quando repetia esta parte "é que sabe..nós ainda vamos para muito longe").
Estava essa senhora do papel dos bombeiros à frente da senhora do guichet que tentava explicar ao telefone todas as burocracias necessárias para que determinada pessoa se apresentasse numa Junta Médica. Pelo meio metia o tribunal...e parece que é o tribunal que tem de enviar os relatórios médicos, o que tem imensa lógica.
Acabada a conversa telefónica, como boa funcionária de guichet, comenta com os utentes que quiserem ouvir a conversa que acabou de ter "olha agora queriam ir a uma junta médica sem os exames!".
A funcionária que estava ao lado no outro computador estava bastante irritada, e dizia várias vezes "eu só gostava é que eles também se sentasse aqui, eu não estou para aturar pessoas mal educadas" (referindo-se a um problema com um qualquer médico). Mas continuava a falar sozinha no assunto... fazendo como a sua colega, comentando e trocando impressões com quem quisesse ouvir. Um senhor interrompe para fazer uma pergunta simples e ouve logo "o senhor por favor não me interrompa, porque está para aí a dizer coisas e eu já me enganei aqui no computador por causa disso". O sr calou-se.
A senhora que estava a ser atendida tinha uma revista, por acaso enrolada, em cima do balcão. A funcionário não tem mais nada e toca de desenrolar a revista, parando o que estava a fazer, para ver os títulos.
O outro senhor queria mudar a data de uma consulta, pois no mesmo dia tinha uma audiência no tribunal, ia testemunhar num processo do irmão - e tinha um papel do tribunal para justificar. O senhor mostrou o papel como justificação para mudar a consulta. Mas ninguém percebeu e só diziam ao senhor, "ah, isso para alterar a data vai ter de telefonar para o tribunal, porque esse papel não serve para a Junta Médica" - dizia a funcionária que estava ao telefone com o problema da Junta médica. O senhor estava pasmado com aquilo tudo, porque não tinha junta médica nenhuma, só queria alterar a consulta.. Passado um bom bocado o senhor lá conseguiu que elas percebessem o que era.
Abstenho-me de tentar contar mais alguma coisa...foi tudo dentro destes moldes.. e só estive à espera meia hora! Imaginemos se estivesse mais tempo..
Fica o nosso País retratado pela burocracia, pelas típicas atitudes de produtividade da função pública, pelas pessoas que vivem sempre no "é só um jeitinho, eu não quero passar à frente era só..", e os tribunais - sempre metidos ao barulho, até em coisas que nem é suposto, (nunca pensei ouvir falar tanto do tribunal num guichet de consulta), e pela célebre crítica nacional do "papel e do carimbo", tudo na fila....para carimbar a preciosa receita.

Eu no meio disto tudo, voltei a marcar nova consulta só com a médica, não tive de voltar para a fila porque não marquei nem tinha receita :) (não sei se vos disse que a médica é minha amiga... é outro problema do nosso País)

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